...um murmurio:
“que diabo de gente é você?”
nem eu sei, mas sem pensar muito,
afirmo, o encanamento da minha alma
é bagunça da mais pura,
tudo ali fica acumulado,
sufoca, inunda, afoga,
meus sentidos são instrumento sofisticado,
a memória sob controle frouxo,
mas corpo é corpo usado e gasto,
sou um cara pé no chão de mentirinha,
flutuo por vales, cavernas assustadores,
pico das montanhas, edifícios altos
me levam a loucura,
mar e ondas me acalmam,
sou faca sem gume,
garfo cego, colher plana,
não sou Alain Delon,
talvez um Belmondo piorado.
mastigo com igual desgosto o ruim, o bom,
perigo não me atinge,
meu destino foi traçado no o dia que nasci,
e agora fico na calçada da vida
cansado, esgotado,
um não deus, um não homem,
com dias contados ao contrario,
do infinito ao zero,
mas antes que o portão se feche,
antes que façam a ultima pergunta,
antes de ser levado pelos padioleiros,
antes que o capim gordura me cubra,
antes de recusar o perdão,
antes de ver tudo escuro,
antes que esvaziem minhas gavetas,
meus segredos revelados,
e não ter onde me esconder,
não apaguem as luzes do meu quarto,
deixem as lâmpadas queimar,
como tantas vezes queimaram meus amores
lentas e doces foram as noites,
os tempos passados juntos com todas elas
minhas mãos nunca as tocaram em desespero,
mas com carinho e amor verdadeiro,
entrei nas vidas delas pela porta da frente
não como ladrão, como homem valente,
e quando as penetrei eu tinha certeza que
prazer e euforia seriam medidos
pela dor, pelo grito, amargo e repentino,
lentas e doces eram as noites no inicio
mudadas em ásperas areias,
e despedidas sem remorso
:– sejamos sensatos, sejamos amigos –,
e a medida que me afastava delas
meus arrependimentos se avolumavam,
se tivesse escolhido uma delas
talvez o silencio não pesava tanto,
e mesmo falecido não aceito chuva me molhar,
nem a imagem do deserto me consolar,
não me rendo a noite permanente,
me debato e ressurjo,
fujo do refugio da loucura,
vou viver longo verão em Ipanema,
encontrar aquela que me faça reviver a insensatez,
o prazer de me afogar dentro dela,
afastar de mim as lagrimas da hipocrisia,
me lamentar da idade avançada,
roubarei da minha perdida mocidade
lentas e doces noites,
prazer e euforia com austera maestria,
Tim Maia me ajuda!
Ah!Se o mundo inteiro
Me pudesse ouvir
Tenho muito prá contar
Dizer que aprendi..
.E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro rir.
.Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...
Ver na vida algum motivoPrá sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...