Gigi e Myra
conversa entre irmãos

sabato 12 giugno 2010

Poema sem fim 1 - Iosif Landau



mas como dizem os franceses
tout passe, tout casse, tout lasse,
rien dure longtemps
(tudo passa, tudo quebra, tudo cansa,
nada dura por muito tempo)
e eu acrescento:
sauf mes memoires,
(a não serem minhas lembranças)
continuo escrever o que passa
pela minha cabeça,
e saio do Rio de Janeiro de 1940,
e reapareço em 1970 em São Paulo,
me coloco como espectador
e rezo meu terço:
você chega do interior
de um lugar onde vive mal,
dorme mal e come mal,
onde a ordem dada é trabalhar,
tem que lidar com operários,
você é um também,
mas deu o azar de ter diploma,
e te odeiam,
tem que lidar com quem manda e desmanda,
com quem é teu inimigo,
você representa o poder e o dinheiro
e está ali pra ganhar mais
pra quem te paga salário
e aceita o desafio por que não tem outra saída,
tem família, tem que agüentar,
leva porrada sorrindo,
dá porrada rindo,
e depois conta uma piada,
bate nas costas de uns coitados
e fala as vezes de verdade,
obrigado!
e ao chegar em Sampa,
selvagem domesticado,
se abriga num hotel
onde baratas também se hospedam,
a diária é de fome,
e tua grana pessoal não é pra gastar
com o seu conforto,
viajou pela estrada a noite toda,
está muido, dolorido, putão da vida,
é de manhã, daqui pouco reunião
onde vai estar na defensiva,
vão te sculhambar, vai se calar e escutar,
vai prometer o impossível,
é tudo uma misancene,
é só pra salvar as aparências
pois quem manda mesmo
levou grana pesada e tá na fazenda
tomando sol e se banhando na piscina,
e você toma um banho, faz a barba, se arruma,
sai, pega um táxi, desce na avenida Paulista,
se identifica no hall do edifício luxuoso
que abriga parasitas da nação,
sobe pelo elevador ultima geração,
desce onde tem vontade de cuspir no chão,
uma boneca toda enfeitada
de bunda apertada numa saia justa
e com um decote pior que o de uma prostituta
te sorri, te chama de doutor e te introduz
na sala da onde quatro caras estão sentados,
você cumprimenta, e se senta,
café e água gelada ao seu lado,
papel e lápis a sua frente,
acende um cigarro e espera,
todos falam, todos se repetem,
você finge escutar,
só emite escassos sim,
uma ata é redigida, você assina sem ler,
sai depressa, tem mais o que fazer,
é como ninguém é de ferro
tem tudo planejado pra não perder tempo,
tem mulher no meio,
pede licença a boneca da recepção
e liga o telefone pra ela,
marca almoço, pega outro táxi,
o encontro é no Rubayat,
ela te beija no rosto,
é linda, bem vestida, cheirosa e gostosa,
depois do almoço metemos um cinema,
no fim da tarde subimos pro apartamento dela,
naquele imenso edifício ondulado, o Coplan,
faz amor, fode que nem doido,
ela é perfeita, finge que te ama, não importa,
é uma amiga, é mulher, já fomos amantes,
deixa uma grana, mulher tem que ser paga
mesmo que ela te ame loucamente,
se não recompensar ela dá um jeito de te sacanear,
isso é a regra do jogo do amor,
se despede, volta pro hotel,
muda a roupa bacana,veste a de candango,
paga e pega o recibo, o guarda,
entra no carro estacionado perto,
e volta pra estrada,
a guerra te espera,
e volta àquela vida de filho da puta assalariado,
o pessoal lá em casa no Rio
precisa comer, estudar, cuidar da saúde
e ir a praia.

4 commenti:

  1. boa tarde, meu querido navegante, estou um pouco triste pque este poema, nenhuma das minhas amigas, veio ler e comentar. Com certeza elas ja conheciam, bem nao faz mal, eu leio e basta. Voce escreve tao bem!
    nao tenho grande coisa para te contar, o tempo aqui brinca comigo, faz sol lindo, o dia seguinte muda outra vez, enfim, chega de falar do tempo...isto è se nao me fizesse sentir mal.
    Mas nada posso fazer contra este malestar. trato de pintar mas, mas nao sei o que està acontecendo, estou blocada, com esforço faço uma linha por dia. tem que passar esta fase de "neurosispictoral"!!!:)) entao por enquanto so te mando um beijos bem grande...

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  2. Myra, eu dizia muito a ele, o quanto me impressionava a memória dele, as lembranças, o jogo que ele fazia na escrita, mesclando o presente com o passado, a realidade com a fantasia.

    Ele é um gênio.

    beijo

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  3. sim, minha querida, é um genio!

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  4. Cheguei aqui pelo O Falcão de Jade e vou tornar-me vossa seguidora por este texto e por outros, que são tão especiais.
    Gábi

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