Gigi e Myra
conversa entre irmãos

giovedì 18 febbraio 2010

EU VI - 2003 - Iosif Landau

Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura...
Allen Ginsberg inicia o seu Uivo.

E eu vi a minha geração esmagada pela apatia,
que não soube se insurgir nos campos da morte,
arrastando-se até a sepultura sem um uivo de protesto,
que suportou em silêncio o desdém dos que se diziam amigo
se não odiou bastante seus inimigos,
não condenou seus aliados,
sumidos nos esconderijos da ignorância e presos pela ganância.
Piratas com bandeira da neutralidade,
o rei Papa conduzido pela Guarda Suíça
a fazer mesuras solenes à Besta e o Grão Mufti no Cairo
a incentivar a chacina, compenetrado em rezar na direção de Meca.
Os lábios dos mortos agora murmuram,
não cometam de novo a mesma loucura,
debaixo da terra ainda ouvimos gemidos de dor,
não deixem os mortos retornar e não deixem os vivos esquecer
os assassinatos a sangue frio e jamais olvidem os olhares dos sem nome.

Ó Deus, volte de onde se escondeu e se lembre de nossos nomes,esqueceu-se de que nos criou com amor?Foi Você ou Satanás que nos amaldiçoou?

Eu vi minha geração muito paciente, iludida, enganada,
as primaveras nunca serenas, os invernos sem festejos.
Na Terra Sagrada os inimigos enchem a pança com tâmaras e figos,
e o protetor saxão a enviar laranjas para as mesas de ladies&gentlemen
enquanto crianças e adultos jaziam em campos de refugiados,
condenados à eterna espera, ao amanhã que nunca vinha.

Ó mundo, nos diga, a vida de alegrias é vida de lágrimas para sempre?

Eu vi minha geração-gado, vagar no Mediterrâneo azul e manso,
enquanto mister Bevin, Her Magestie's minister, negava vida,
e Êxodo, navio fantasma, campo de extermínio flutuante,
podre e fedorento, levava de um porto a outro, mercadoria-gente,
que já se esqueceu de onde veio, onde nasceu,
apenas o nome judaico ancestral a fazer lembrar de flores e frutas,
cidades medievais,campos de trigo, cantos e lamentos, templos incendiados e cossacos.

Ó Deus, da tua janela celeste, o que vê? O mesmo que as mães em desespero com sua carga no ventre?

Eu vi minha geração desesperada, forçar a porta do Paraíso das olivas,
enfrentar os tommies ingleses com poucas armas e muita coragem,
o Irgun, o Haganah abrirem caminho ao êxodo moderno,
e ver enfileirados corpos ao pé do Muro Sagrado,
almas pacientes,mortas com sorriso nos lábios,
a Terra ainda nos pertencerá,
o deserto florescerá e nossas crianças serão belas
e até os navios afundados a caminho da liberdade serão recebidos com vinho e flores.

Ó meu Rei David, será essa a nossa glória?Ó meu Rei Salomão, o Templo são essas pedras?

Eu vi minha geração-coragem empunhar granadas, fuzis e pistolas
homens e mulheres de todas as idades,
de muitas línguas e costumes,
defender a Terra Sagrada,
evitar nova carnificina de Massala,
e depois de dezenas de anos e mais duas gerações,
ainda em luta de pouca glória-necessária,
almejando sol e sombras pacatas,
em vez de ruínas fumegantes,
e mães de tumbas escuras sussurrarem,
filho tome cuidado, a noite ainda é escura,
a alvorada ainda demora,
e talvez depois de tantas batalhas, o ódio sumirá para sempre.
Mas o sangue de tantas cores nas areias do deserto,
aos pés das oliveiras, surgirá sempre vermelho,
será para sempre a Lembrança.

Ó Deus, sua voz-trovão cada vez menos ouvida, seu silêncio é imenso.

Eu vi os expoentes da minha geração quase destruídos pela loucura...

3 commenti:

  1. "Mas o sangue de tantas cores nas areias do deserto,
    aos pés das oliveiras, surgirá sempre vermelho,
    será para sempre a Lembrança."

    Palavras intensas, inesquecíveis!

    Um beijo

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  2. que linda voce é! segue sempre aqui a nos dois! ficamos bem contentes...sim, meu irmao escreve muito bem...nao consigo ainda escrever em passado. Impossivel. Sinto o Gigi aqui bem pertinho de mi, olhando, sorrindo, me chamando como faz muitas vezes, de "ideia fixa":)))vou por amanha um prefacio que a amiga e editora dos livros dele, escreveu na Memoria Tumultuada, umas palavras muito lindas, e depois vou continuar a por outros poemas de Eu Vi...
    nao consigo seguir uma coisa sò!!
    salto daqui para là de là para cà..
    abraços e beijos nossos, minha querida Angela

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  3. Eu não vi, nem vivi o que vocês viveram, é quase como se não tivesse essa compreensão.

    Eu sou fã dele em todos os aspectos, pela memória invejável, pela escrita, pela pessoa que é.

    beijo

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