Gigi e Myra
conversa entre irmãos

domenica 21 febbraio 2010

Eu Vi - Iosif landau - 2003


Minha geração me viu partir para a terra do Arco-Íris.
Fugi de uma terra abençoada, rica em ouro, petróleo e trigo,de uma cidade bela e encantada, Cidade Luz dos Bálcãs,reinado, opereta digna de um Franz Lehar.
Fugi aos poucos, sem pressa e muita dor, fugi da enchente sangrenta, fugi da morte, do fogo e do aço escaldante, dos novos selvagens.
Aprendi que a morte não é sono ou descanso, é lua de sangue,e te espera de olhos bem abertos, mas os anjos dos livros sagrados,com roupagem de seda e sininhos, me cercaram e murmuraramno ouvido: vá! vá !vá!, teus pais te esperam, tua irmã te chama.
E abandonei minha infância, meu nascimento, meus livros,meus retratos, meu quarto e corredores silenciosos, as bestas rindo.
Trouxe comigo meu corpo, meus dezesseis anos, a poeira das lembranças,os lençóis brancos cobrindo corpos mutilados e dos vivos que ainda morrerão.
Deixei para sempre os túmulos dos antepassados.
Minha geração partiu para a terra do Arco-Íris,mas levou consigo, gravadas na alma para a eternidade, palavras doloridas e imagens de pavor,um pergaminho secular de morte e terror, e viajantes como eu, colecionadores de dor e temor,"Meu Deus, meu Deus, por quê?".
Ele nunca responde,mesmo na segunda chamada, uma eterna dúvida: meu Deus?
Talvez tudo esteja escrito em livros não compreendidos,em dicionários com palavras desconhecidas e amaldiçoadas.
Como os exilados do Faraó, esperaremos, ajoelhados na escuridão,escondendo nossos rostos submissos, até que a humanidadearrependida estenda seus braços e nos chame: venham irmãos,nos somos o mundo!
Minha geração partiu para a terra do Arco-Írisà procura de novas ilusões e novos lares,novas paisagens e terras macias, um Novo Mundo,e eu tentarei atarraxar um novo rosto, de herói, livrar-me do antigo e jogar no lixo a lâmpada queimada, meus braços estenderei para o novo futuro.
O movimento de minha alma será o movimento das ondasdo novo mar, e meu olhar se perderá no horizonte azul,e as mesuras de vai-e-vem das rezas são movimentosde arrancada de um salto triplo para a nova vida.
Numa bela manhã, limpa e azul, resplandecente e luminosa,vejo com clareza o milagre, meu neto, que me abraça rindo,e eu visto roupas coloridas, e ouço nem perto nem longe,vozes que cantam alegria ao som de bateria cadenciada.
Meu corpo se movimenta em harmonia com a nova alegria,ganhei o jogo de xadrez com seus vinte e quatro quadradinhosde desespero e vinte quatro quadradinhos de não-esperança,estrelas brilham no meu coração, a Via Láctea bem próxima.Hino de glória ao Deus imaginário da minha infância,ouço o som do shofar: "as portas do paraíso se abriram".Não beijei o solo do novo país quando desembarquei,há sessenta anos, mas sei que me abraça, até a ultima despedida.
Finis!
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codigo atavico escondido?
nao,
bem vivo
eterno

isto sou eu, Myra, que digo

4 commenti:

  1. O Arco-íris estava dentro dele ,mas nem ele percebia...


    Palavras marcantes transbordam emoção!

    Um beijo e bom final de domingo!

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  2. Myra,
    Muitas vezes venho e fico sem palavras, talvez porque há momentos em que as palavras nada podem acrescentar ao que já está dito, e muito bem dito.
    Deixo um beijo

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  3. bom dia meus amigos,Angela e Fred agradecemos suas palavras!!! sim, Fred, como meu irmao escreve bem!!!ainda nao posso falar em passado, pouco a poco vou poder,ainda nao dà..
    e vou por todos os dias algo deste livro dele, que eu acho muito lindo...ele coloca ali tanta emoçao, tantos sentimentos...
    até amanha.

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  4. Myra, como ele transmite a emoção do que sentia, do que vivia, do que viveu...

    abraços

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