Gigi e Myra
conversa entre irmãos

domenica 17 gennaio 2010

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Por trás de cada homem de sucesso
sempre tem uma mulher valorosa.
Meu sucesso foi discutível,
não por falta do poder feminino


Estou cometendo um pecado imenso, sendo egoísta no começo das minhas recordações. Falei muito de mim, demais, apareci como um lobo solitário, autêntico herói hesseano, vencedor e derrotado ao mesmo tempo, uma imperdoável ilusão, mentira e safadeza. Nada mais errado e enganoso.
Minha mãe, deu-me a vida, minha maior lembrança dela é a sua beleza, sua elegância, mais tarde o choque da decadência gradativa, paulatina, imperceptível, trágica e triste. Uma característica dela era ser ecumênica de verdade, dizia que para rezar qualquer templo servia, entrava em qualquer igreja de qualquer credo. O que hoje reconheço e percebo, é que não fui bom filho, não o filho que meu pai fora, amoroso, carinhoso e respeitador, eu nunca soube retribuir o amor materno.. Verdade era, que superprotetora, até uma certa idade isolou-me do mundo de fora, fiz o primário inteiro em casa, governantas para mim e minha irmã.
Nada disso importa agora, o que importa era seu carinho.
Casou-se, como era praxe naqueles tempo, em união arranjada, meu pai já era rico e ela, órfã de pai e mãe. Assisti muitas brigas entre eles, mas ele a paparicava, era um bom marido, se o amor apareceu entre os dois, não sei dizer, não me lembro de beijos e abraços entre eles. Sei que se amaram no ocaso da vida e para mim isso é um consolo.
Um grande espaço... Fui para o colégio inglês, via a família nas férias, guerra e fuga nos separaram, confesso culpa, nunca saudades. No reencontro no Rio, não me lembro de emoção da minha parte, minhas emoções são retardadas. Formei-me, casei-me, vieram os filhos, os netos. Ela ficou doente, sua pressão sanguínea elevada, a ida aos Estados Unidos para a operação milagrosa sem efeito, com conseqüências desastrosas, o vício da morfina, eu em viagens de trabalho, contatos esparsos, o amor dela dirigido à nora e aos netos, a decadência monetária da família, a idade fazendo estragos... Faleceu em 1973. Eu, de muito longe, voltei apressado para o enterro, não chorei... Agora, depois de anos de sua morte, escrevi poemas sobre e para ela, amo-a agora como nunca amei em vida, conheço-a agora como nunca a conheci, uma verdadeira dama, uma mulher maravilhosa. Se Deus é caridoso, que a faça ler o que escrevo, se é milagroso que a faça ouvir: te amo, mãe Elena!
Eu nasci primeiro, minha irmã, quase dois anos mais tarde, Myra. O irmão mais velho sempre é uma peste, a irmã é inexistente e nada vale, crescemos juntos, quase estranhos, sei que eu me encantava com os livros dela, a coleção Comtesse de Ségur, todos éramos grandes leitores. Um ano depois de eu estar na Inglaterra, ela também foi enviada para lá, para um internato, tenho certeza, tão nobre e aristocrático quanto o meu. Visitei-a poucas vezes, um perfeito egoísta e safado. No pré-guerra, como já contei, ela voltou com os pais a Bucareste, passou com eles pela fuga por Lisboa, até o Rio de Janeiro. Eu pouco externava meu amor fraternal. Conheceu meus amigos do remo, ficou noiva do Elio, não deu certo, namorou um outro, casou. Aprendeu o ofício da cerâmica, pintura, acabou por divorciar-se, voltou para o Rio, ao seio da família. Convém mencionar que: primeiro, o meu pai a sufocava com o seu amor, ela e minha mãe eram cão e gato, e naquele tempo, mulher descasada era pária, a família vigiava como se donzela continuasse. Uma relação com homem solteiro era pecado mais do que mortal, grande heresia, ela apaixonou-se por um cidadão italiano, quase vira personagem de uma segunda tragédia shakesperiana. Continuava com a pintura, reconheci nela muito talento, se casou com um erudito mexicano para uma nova liberdade, viúvo com quatro filhos, não o conheci pessoalmente. Mudou-se para o México, fez muito bem, a família era um estorvo, meu pai inconsolável, o marido mexicano, mais tarde fundador e diretor de Museu de Arte.Tempos mais tarde, ficou viúva.
O que escrevi até agora parece mais um relatório do que a descrição de uma relação de amor e amizade. A convivência foi pouca, o amor existia, mas escondido. Já devem ter percebido que eu não sou, ou melhor, não era, um cara muito efusivo em demonstrações de sentimento, mas quando foi preciso, sempre estive ao lado dela. Muitas vezes ela vinha ao Rio mas não permanecia por longo tempo, se correspondia muito com meu pai. Eu nunca escrevia, só tinha notícias dela pela voz do velho e ela enviava, a mim e aos meus filhos, suas pinturas. Estabeleceu-se em Xalapa, cidade afastada da capital, lecionou na universidade local, a pintura, sua paixão eterna. Minha sobrinha Dominique, a quem quero muito, casou-se em segundas núpcias com um jornalista holandês, deu à minha irmã três netos, vieram ao Rio duas vezes, bela família. Como o seu genro foi enviado pelo jornal à Itália, minha irmã mudou-se para Roma e, por desgraça do destino, a filha, o genro e os netos mudaram-se para a China, ela ficou na Itália, sozinha e triste. Mas ela é uma Landau, tem fibra, gana, teimosia, muita coragem e vive, na pintura, a paixão de sua existência. A última vez que a vi foi no Rio em 1994. Não sei se vamos nos rever, meu Deus, agora eu choro, nenhum dos dois tem posses para viajar e nem saúde física ou mental para tal empreendimento. Felizmente a informática encurtou o tempo e a distância, nos comunicamos por e-mail, o que é um enorme consolo. Minha irmã é uma mulher extraordinária, tem coragem para dar e vender, tem talento de sobra, fala e escreve em três línguas com perfeição absoluta, espanhol, italiano e francês, não sei se ainda se lembra do alemão, se ainda domina bem o inglês, mas creio que sim e, ainda, sabe o português e lembra-se do romeno, que eu já esqueci faz tempo. Sua cultura é vasta, é mil vezes mais inteligente que eu, é poetisa, escritora, um monumento de pessoa com menos de 1,70m de altura e eu sou um irmão desnaturado que a ama muito, e meu Deus, como desperdicei momentos de ternura, soeur Myra, comme je t'aime!


...no Colégio Andrews, na Praia do Botafogo. Foi lá que a conheci, uma colega de estudo, amor fulminante da minha parte, sabia que seria minha. O nome dela: Lia. Eu com quase dezenove anos, ela um "brotinho" de dezesseis aninhos. Era e ainda é, um modelo de beleza, e, ainda por cima, de uma inteligência genial. Era tão bela, que eu ouvia com orgulho e um pouco de raiva "como é possível menina tão bonita namorar um rapaz tão feio!". Introduzi-me na família dela, o pai boa praça, os meus a conheceram e logo gostaram dela. O complementar findou, o vestibular era o outro passo. Eu levei "bomba", ela passou com louvor para a Faculdade de Filosofia, foi estudar Matemática e eu fui melhorar meu QI num curso para o vestibular seguinte. Como a vida não dá sopa, o pai dela foi transferido para o Paraná, na cidade de Castro, e eu fui cursar Engenharia em Itajubá, Minas Gerais. .Casamos em janeiro de 1950. Ela foi uma companheira extraordinária sempre e quando foi preciso, trabalhou e ajudou-me. Comigo afastado por necessidade da família, criou os nossos filhos com dedicação e muito amor, foi ela o chefe da família. Eu sempre digo e afirmo, casar-me com Lia foi a única decisão acertada na minha vida, deu-me uma herança maravilhosa, filhos perfeitos, lindos e superinteligentes, e afirmo perante o que mais há de sagrado, morreria por ela com alegria. ... socorreu-me nas minhas mais profundas tristezas e depressões, deu-me motivos de sobra para eu agradecer por estar vivo. Lamento até hoje não ter ouvido seus conselhos e premonições, mulher é mais sábia e instintiva que o homem. Em janeiro de 2000 fizemos cinqüenta anos casamento, fomos muito felizes e ainda somos e seremos. Jeová e Cristo batem palmas e sorriem. Lia, te amo!

7 commenti:

  1. Vou voltar para ler com calma. Ele falava dessas mulheres, e amava muito. Mas me dava a impressão, e ele própria dizia, que não sabia demonstrar e dizer o tanto quanto amava.

    Me diz, ele sabia demonstrar esse amor que tinha por vocês? Ou era porque ele se cobrava demais?

    beijo e abraços

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  2. Ah...Agora sei quem é seu irmão! Já fiz comentários no seu blog a Paula me apresentou. Lembrei agora de um grande escritor. Belo texto este Myra. Beijo

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  3. Paula, sabia sim, de uma maneira mto especial, com timidez,,,,mas sabia...enquanto a mim, nestes ultimos anos atraves de -mails, ele demonstrou ainda mais!!!!Paula, voce nao pode imaginar a falta que me fazem suas linhas...aqui..
    beijos

    meu querido Tossan,obrigada, meu irmao,é um grande escritor!!!!um ser humano excepcional.

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  4. Myra, adicionei hoje aos meus favoritos para vir cá ler as tuas conversas com Gigi.Logo Volto.
    Um grande beijinho.
    Branca

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  5. eles são a base...
    lindo lindo myra, querida..
    como pode tanto amor em linhas?
    beijoos

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  6. Myra, a foto da sua mãe, lembra muito a foto de minha mãe mais nova. Me impressionou.

    Reli, relembrei.

    beijo

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  7. obrigada a todos vcs, de parte minha, e tbem de meu irmao,
    beijos nossos,

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