Gigi e Myra
conversa entre irmãos

martedì 26 gennaio 2010

teco teco- outro trecho de Memoria Tumultuada


Os desastres, na sua grande maioria, acontecem à noite, no transporte de operários, carga perigosa, muda o centro de gravidade com constância, motorista afoito e curva mal transada, o caminhão tomba, mais vítimas fatais. E eu a lamentar e xingar-me, sentia-me culpado, como se fosse eu quem guiasse o veículo. O trator é máquina fatal, o tratorista não tem visão traseira, o trabalho dele é de vai e volta, é obrigado a trabalhar com um ajudante para afastar os incautos, gritar "cuidado!", à noite, uma lanterna sempre acesa, às vezes eles mesmos vitimados, o que fazer contra a fatalidade? Capacete na cabeça é obrigatório, alguns desobedecem, tudo na obra é perigoso, qualquer pancada e acontece o imprevisto, não dava para entender a razão pela qual não cuidavam da própria segurança. No início de todo empreendimento tudo é precário, não há ambulatório, pronto-socorro, que Deus ajude. Dois feridos graves na capotagem de uma caminhonete, pedido de socorro pelo rádio, urgência de avião para remoção, espera perto da pista de pouso, tempo fechado, nenhuma possibilidade. Morreram aos poucos, eu segurando a mão de cada um, não me esqueço. Chovia muito, dias a fio, o Rio Iguaçu subindo caudaloso, previa-se que a ponte poderia ruir se assim continuasse, a todo instante eu era informado, muitas providências a serem tomadas, a chuva continuou, confirmou o previsto, vi a ponte ruir, o peso da água mais a barragem de destroços encostadas no tabuleiro, um estrondo ensurdecedor, apenas os pilares permaneceram espetados. Lengalenga burocrática -- a quem cabia a reconstrução, ao DER-PA ou à Eletrosul -- nunca resolvida, a comunicação entre as margens era importante para o transporte de carga e gente, muitos operários, morando do outro lado. A solução aprovada pela Capitania dos Portos foi uma balsa, caminhões e pessoas ao mesmo tempo, de noite, sempre à noite. A balsa adernou por excesso de carga, poucos foram resgatados. Trinta desaparecidos, durante dias seguidos capacetes boiando, corpos inchados às margens, não tive culpa, o controle da ida e vinda pelo rio não era de minha incumbência, mas os mortos eram meus homens, meus companheiros de trabalho, nunca me refiz da tragédia. O Brasil cresce grande, agiganta-se, obras importantes, todos os anos, meses e dias, morrem operários, ninguém dá importância. Eu nunca os esqueço!
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Estou ao volante de uma caminhonete, viajando por uma estrada poeirenta no interior do Sergipe, a caminho de um vilarejo, Carira, estou enjoado, encosto junto a um barranco, desço, vomito...
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Acalmo-me. Manobro e tomo o caminho de volta ao acampamento em Estância. Sobrevivi. No vilarejo Poço Verde.
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Estou no teco-teco, no interior de São Paulo, perto de Marimbondo, o pôr-do-sol se aproxima, é um vôo visual, sem instrumentos, a tempestade de vento levanta poeira vermelha, a torre de Marimbondo avisa: ventos de mais de cem quilômetros horários atravessando a pista, impossível aterrissar, a alternativa é São José do Rio Preto, visibilidade nula, apenas um pedaço do céu visível, embaixo a estrada para Goiânia, o piloto sugere pouso forçado, pego a carteira no bolso, abro, retiro a foto dela e deles, sei que não os verei mais... No horizonte, próximo à torre de uma igreja, mando sobrevoar a cidadezinha, há um campo de futebol embaixo, mando pousar ali, estamos salvos, nunca mais esqueci o nome do lugar, Olímpia, os deuses sempre presentes. Canteiro de obra, 1977, uma bagunça, sou o novo supervisor da empresa, meu primeiro dia, dou ordens imediatas, enérgicas, o engenheiro recém-formado olha-me assustado, quando expulso o fiscal debochado da sala, em poucas horas, tudo organizado, o jovem me diz "agora sei o que significa ser engenheiro!". Desembarco em Bauru, sou levado para o museu da CESP (Companhia Energética de São Paulo), vinte e cinco anos de comemoração da inauguração de obra importante e pioneira, da qual participei ativamente.
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faço discurso de improviso, sou aplaudido, abraçado, recompensa tardia, 1993.
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Uma pergunta não cessa de me perturbar, de me perseguir: o que acontece, que só os corruptos, os safados, os pilantras e os mal-intencionados encontram o caminho do poder, do comando da nação? Será que em algum momento da sua existência, eles foram como os universitários que conheci? Se foram, por que razão mudaram? Filosofar não adianta, nem estou capacitado para tanto, só me resta concluir que o ser humano nasce com o vírus, com a semente da ruindade, do desvio de conduta.
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Chega de saudade, chega de conversa!

4 commenti:

  1. bom dia meu irmao querido, acho que amanha vou copiar aqui as palavras que voce escreveu às tuas amigas, Silvana, Fernanda e vou ver quem mais e depois ja fecho com a Memoria Tumultuada. Porque senao fica muito comprido aqui para este nosso blog...
    voce deve estar bem, nao é assim? eu,vc. sabe, com muito frio e ja com muitas saudades da Dominique e do Marco que foram embora ante-ontem... ciao, ou tchau como voce diz que é em portugues:)))

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  2. Oi querida...

    Vc ja havia me falado deste blog mas ainda nao tinha tido tempo de vir até aqui.Vou te adicionar nos meus preferidos pra voltar mais vezes com mais calma.Bacana esta sintonia com teu irmão.Bela parceria q mantiveram pela vida até aqui.Parabéns!

    Beijos

    Maria

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  3. Lembro desse trecho, lembro da emoção de ler.
    beijo

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  4. adoro o seu blog!!! mauro

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